segunda-feira, 11 de julho de 2011

O 'Meteorito' de Curitiba

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No dia 8 de julho de 2011, de manhã, Eu (Bertoldo) e o Prof. Dietmar Foryta, Astrônomo da UFPR, fomos chamados para uma entrevista sobre um suposto meteorito encontrado em Curitiba (a suposta descoberta ocorreu de fato há vários meses). Não levamos mais do que 2 segundos, cada um, independentemente (chegamos em horários diferentes), para ver que a pedra NÃO era um meteorito. A ‘pedra’ era porosa, cheia de cavidades interiores, incompatível com o aspecto de um meteorito, fosse ele metálico ou rochoso. Além do mais, tinha o aspecto de escória de ferro fundido (já vi aquilo no setor de Mecânica da Universidade). Explicamos isso à reportagem, em linguagem popular, mas com grande rigor científico (o que incluiu, claro, a possibilidade de que poderíamos estar errados e de que aquele seria o primeiro meteorito do tipo, apesar de uma chance esmagadora contra). Fizemos uns 20 minutos de gravações e respostas a várias perguntas, mas o que saiu no ar (de uma grande rede de televisão e num prestigiado jornal) deu a impressão de que era mesmo um meteorito. Eu indiquei o (passei o cartão dele para a reportagem e para o ‘cara do meteorito’, o Maicon Colussi) Rodrigo Sato, geólogo meteorista de Florianópolis,como especialista que podia dar a última palavra (70 % dos meteoritos que tenho foram comprados dele). Infelizmente, a reportagem puxou a sardinha para o lado mais polêmico e agora eu me sinto no dever de dissolver essa sensação de que foi encontrado um meteorito em Curitiba. A História do cara é até interessante e compatível com um avistamento próximo de queda de meteorito. Pode até ter acontecido, mas a pedra que ele encontrou NÃO era um meteorito (veja a foto). Muitas pessoas me ligaram e enviaram email querendo mais detalhes e vou aproveitar para responder por atacado, por aqui. NÃO era um Meteorito! Levei algumas ferramentas. A pedra tinha aparência vítrea, não era metálica (fiz raspagem para verificar se havia metal no interior), não apresentava reação magnética na presença de um ímã forte e era pouco densa (Fato verificado pelo Dietmar) [eu chutaria uma densidade entre 1,5 e 2,5].
Resumindo, nenhuma característica de meteorito estava presente na pedra (somente um único exemplo de regmaglipto, mas as bordas eram cortantes e não arredondadas, como num meteorito). Segue a foto da pedra. Uma foto que mostra as cavidades internas que descaracterizam a pedra como meteorito. O Prof. Dr. Marcos Antonio Florczak, do departamento de Física da UTFPR, enviou-me um email indicando dois órgãos no Brasil que atuam na área da meteorítica/; CBPF, grupo de meteorítica, mineralogia e arqueometria, em http://portal.cbpf.br/index.php?page=GruposPesquisa.Apresentacao&grupo=56 e o Museu Nacional (Rio), Projeto: Meteoritos (SID: 370102P. 025-0). Coordenadores: Maria Elizabeth Zucolotto e Victor Klein, em http://www.dgp.museunacional.ufrj.br/old/metdgp.htm.

Reportagem veiculada no portal G1.

Um comentário:

  1. caro prof. Bertoldo. Fui aluno do prof. Dietmar e atualmente leciono para o ensino fundamental em um escola particular aqui em Curitiba. Discuto muito sobre a questão de divulgação de ciência feita pela mídia e quero usar a sua explicação para discutir com meus alunos como a mídia vê a ciência (mais um um circo do que algo coerente).
    Infelizmente é das mãos de veículos assim que orientam-se várias das idéias que ouvimos em sala de aula...
    Que o saudoso Carl Sagan nao tenha se revirado em seu tumulo ouvindo esses fatos...
    obrigado por esse espaço.
    um forte abraço

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