sexta-feira, 6 de maio de 2011

A carência de engenheiros

A carência de engenheiros em diversas áreas tem várias causas. A mais contundente, entretanto, é estrutural e diz respeito à qualidade da educação ofertada no ensino básico e médio.

Em artigo endereçado ao público das universidades norte-americanas no início do período letivo (em setembro de 2010), o presidente Barack Obama elenca as metas e ações de seu governo para posicionar os Estados Unidos, até 2020, como o país com o maior número de alunos formados em faculdades e universidades em todo o mundo. Justifica tal política considerando a necessidade de aumentar a competitividade de sua economia ao compará-la com a de outros países com maior e melhor nível educacional.
No Brasil, dois programas pretendem, a seu modo, responder ao mesmo desafio: o Prouni, que tem por finalidade a distribuição de bolsas de estudo aos alunos de famílias menos favorecidas matriculados em instituições privadas de educação superior e o Reuni, que tem por meta dobrar em 10 anos, a partir de 2008, o número de alunos matriculados nos cursos de graduação nas universidades públicas federais.

Apesar desses esforços, sabemos que os desafios na educação superior brasileira são bem maiores que os dos norte-americanos. A situação é ainda mais crítica na área das engenharias, na qual a carência de profissionais chega a ser dramática. O Brasil forma por ano cerca de 40 mil engenheiros, diante de 650 mil na China, 220 mil na Índia e 190 mil na Rússia (para fazer a comparação entre os países do bloco conhecido como Bric). Em recente reunião na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), subordinada ao Ministério da Educação, o grupo de trabalho da área constatou que os índices de titulação nas engenharias atingiram, em 2008, apenas 35% nas instituições públicas de ensino superior e 25% nas particulares, caracterizando elevada evasão. Nesse mesmo ano cerca de 90 mil vagas em Engenharia oferecidas no vestibular não foram preenchidas. Estimativas indicam que para cada milhão de dólares investido, o mercado demanda um novo engenheiro, havendo necessidade de aumentar em mais de 20% a formação anual desses profissionais, se o país deseja sustentar um PIB com crescimento maior do que 5% ao ano. Segundo levantamento do Conselho Federal de Engenharia (Confea), o Brasil possui sete engenheiros para cada grupo de 1 mil pessoas economicamente ativas, enquanto que em países desenvolvidos tal número varia entre 12 e 24.
Para suprir a demanda atual do mercado, empresas têm recorrido à importação de profissionais. A carência de engenheiros em diversas áreas tem várias causas. A mais contundente, entretanto, é estrutural e diz respeito à qualidade da educação ofertada no ensino básico e médio. Faltam professores com boa formação para ensinar Matemática, Física e Química. O último censo do Ministério da Educação revelou que dos 448 mil professores atuantes no ensino médio da rede pública, pouco mais de 20% apresentam formação na área das chamadas Ciências Exatas. E a consequência dessa distorção é revelada pelos resultados obtidos por nossos estudantes no PISA (Programme for International Student Assessment), os quais mostram que bem mais de 50% não dominam os conhecimentos básicos de matemática e ciências.
Em curto prazo, infelizmente, há pouco a ser feito. Algumas ações tímidas foram colocadas em prática pelo Ministério da Educação, como o Plano Nacional para Formação de Professores da Educação Básica e o Programa de Consolidação das Licenciaturas, ambos com o objetivo de melhor qualificar os professores do ensino fundamental e médio. Mas o que deve mesmo fazer diferença é o compromisso dos governos, em suas várias instâncias, em praticar uma política salarial que atraia bons talentos para a área da educação, ao mesmo tempo em que façam exigências de qualificação e desempenho. Por ora, para aliviar o problema da carência de profissionais em engenharia, o governo federal estuda a possibilidade de ofertar bolsas de estudo para os estudantes dessa área. Pode ser uma boa iniciativa, mas não é suficiente.
Alexandre de Almeida Prado Pohl, doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Técnica de Braunschweig, Alemanha, é professor associado da UTFPR.

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